É óbvio, mas diante da evolução espiritual, Papa Francisco gostava de frisar que era gente como a gente, de carne, osso e emoções diversas. Antes de chegar ao posto mais alto da Igreja Católica, o argentino, que morreu na última segunda-feira (21), passou por provações até entender se era mesmo o caminho religioso que queria seguir. Enquanto isso, não deixou de aproveitar a vida mundana, como narrou em autobiografias.
Jovem, em Buenos Aires, o então Jorge Bergoglio (nome de batismo do papa Francisco) fez parte de "os dez muchachos". Era como ele chamava o grupo inseparável de amigos, com quem estudava, conversava sobre assuntos diversos e organizava festinhas.
Papa Francisco relembrou a sua juventude
"Organizávamos com frequência noitadas em um clube do bairro Chacarita: jogávamos bilhar, discutíamos questões políticas e dançávamos tango. Eu gostava muito da orquestra de Juan d’Arienzo, e também dos cantores Julio Sosa e Ada Falcón, que depois de vários problemas amorosos se tornou freira e foi morar em um vilarejo na província de Córdoba", escreveu Papa Francisco na autobiografia "Vida: A minha história através da História", lançada em 2024.
CHAMADO
Mesmo inseparáveis, o futuro pontífice disse que demorou dois anos para contar aos amigos, desde que tomou a decisão de virar missionário. O chamado divino, aliás, ocorreu justamente horas antes de ir encontrá-los em uma dessas festas estudantis.
"Minhas lembranças retornam àquele dia, 21 de setembro de 1953: eu tinha saído de casa com pressa, precisava encontrar meus amigos na estação para ir à festa do estudante. Passei em frente à basílica de San José de Flores, a mesma que frequentava desde pequeno, e de repente senti a necessidade de entrar e saudar o Senhor. Depois de rezar de joelhos, começou a crescer em meu íntimo o desejo de confessar-me (...)”, contou o Papa.
“Durante aquela confissão, algo estranho aconteceu, que mudou para sempre a minha vida: eu estava maravilhado por ter encontrado Deus subitamente. Ele estava lá me esperando, antecipou-se a mim. Confessando com aquele padre, senti-me acolhido pela misericórdia do Senhor. (...) Fiquei emocionado e senti necessidade de correr para casa e ficar sozinho, em silêncio. E fiquei lá por um bom tempo. Não por acaso, por dois anos não falei com ninguém da minha família sobre meu chamado ao sacerdócio", relembrou Francisco.
RECAÍDA
Na juventude, Papa Francisco disse que teve uma namorada, mas nunca relatou o motivo do término entre eles. "Era uma menina muito doce que trabalhava no mundo do cinema e que depois casou-se e teve filhos". E ao entrar no seminário, já decidido com a missão que teria em vida, ele confessa ter vivido uma recaída pela garota.
"Durante aquele ano de seminário, também tive uma pequena paixão. É normal, ou não seríamos seres humanos. Eu estava no casamento de um dos meus tios e fiquei encantado por uma garota. Ela virou minha cabeça com sua beleza e inteligência. Por uma semana, fiquei com sua imagem na mente, e foi difícil conseguir rezar! Depois, felizmente, passou, e me dediquei de corpo e alma à minha vocação", disse o Papa, com seu bom humor habitual.
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